Fátima e Aparecida, a mesma "Senhora Imaculada"



Centenário de duas devoções marianas com profunda eclesiologia e mariologia

Por Pe. Rafael Maria*

Recife, 13 de Maio de 2015 (ZENIT.org)
Dentro das comemorações do Tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida [1717-2017] e o Centenário [1917-2017] das célebres mariofanias (aparições marianas) de Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Portugal, ambos os santuários tiveram uma feliz ideia de irmanar-se com gestos recíprocos de troca de imagens marianas. O santuário de Fátima doou uma imagem de Fátima para o santuário aparecidense e o santuário de Aparecida, uma imagem para o santuário português. Este gesto simbólico é sinal de fraternidade e conduta amigável de unidade, concórdia e forte testemunho de piedade marial. Mas por traz existe um ato que dá significado destas “duas” Senhoras.

Embora com datas e acontecimentos diferentes ao qual Deus quis se manifestar através da presença da Virgem, estas duas mariofanias estão intimamente interligadas teologicamente. O encontro da imagem aparecidense entra no esquema das mariofanias e dai possui uma tônica de ação divina pelos acontecimentos subsequentes.

Fátima, devoção iniciada em 1917 e Aparecida em 1717 trouxeram benefícios espirituais muito fortes para Igreja em continentes diferentes. Fátima, com sua tonalidade espiritual e política, influenciou no combate a ideologia do Comunismo contrário aos valores e dignidade do homem. Assim como sua forte mensagem de conversão e penitência.
Aparecida por sua vez caminhou na história da Igreja no Brasil e só no Brasil, sem nenhuma influência externa ou sem nenhum interesse internacional justamente por causa de uma falta de estudos mais profundos. Porém é uma das manifestações marinas populares apreciada e admirada também fora do Brasil pela quantidade de fiéis que visitam o santuário, pela grandiosidade física do santuário. Contudo, entre Fátima e Aparecida os laços mariológicos são muito fortes por vários motivos centrados em simbologias e mariologias:

A imagem aparecidense possui traços da arte portuguesa, embora o escultor seja considerado brasileiro recebeu toda a sua formação teológica em Portugal. Pois atribui-se a confecção da imagem aparecidense ao monge beneditino, Frei Agostinho de Jesus († 1661). Segundo alguns autores, querem encontrar na imagem, traços brasileiros (índio, negro e branco). Mas a imagem possui traços tipicamente portugueses com matizes bíblica inspirada no Cântico dos Cânticos, como o foi todas as iconografias e esculturas da Imaculada Conceição ao longo dos séculos.

Embora a invocação em Fátima queira se chamar a «Senhora do Rosário». Título inusitado em uma mariofania, no entanto traz em si as características físicas da Imaculada Conceição. Como? Vejamos alguns detalhes fatimida:
a) Ela aparece toda vestida de branco, onde associamos às várias iconografias da Imaculada de antigas datadas. Ora, o branco sempre foi a cor simbólica da isenção do pecado em Maria.
b) Nossa Senhora aparece sobre uma árvore, onde encontramos forte relação com Gn 3,22, «a árvore da vida», a escolha entre o bem e o mau, assim como a vitória do Redentor (cf. Gn 3,15) e, a árvore da Cruz (Teodoro Estudita, † 826). Vemos que em Fátima a Virgem pergunta aos pastorinhos se querem ajudar a salvar, a se sacrificar pelos pecadores… etc. O símbolo da árvore em Fátima, está associado à escolha, a decisões que devemos fazer, frente ao Bem e ao Mau. Assim, como Deus fez aos nossos primeiros pais na sua inocência antes do pecado, onde quiseram livremente aderir à desobediência. Ainda, a árvore está relacionado à imortalidade Gn 3,22, que se refere a Assunção de Maria.
 Lembremos que, a nação portuguesa e suas colonias (Brasil) foi consagrado pelo então rei de Portugal, Dom João IV em 1646 a Nossa Senhora da Conceição. Como também foi proclamada Rainha da nação portuguesa e de suas colônias pelo mesmo rei. Ora, nada impede de detectar que nas mariofanias em Fátima, Nossa Senhora venha caracterizada do que Ela é na sua essência para esta nação e para o mundo, «Imaculada». A identidade de Nossa Senhora por decisão do soberano, seja para Portugal, seja para o Brasil, é Nossa Senhora da Conceição, hoje conhecida como a Imaculada Conceição da Virgem Maria.

Os apelos de ambas as mariofanias são idênticos: Fátima à conversão e a penitência. Um voltar integral a unidade com Deus e aos irmãos pela paz. Aparecida embora ser um encontro de uma imagem e ser silenciosa, também nos convida a unidade através do encontro de duas partes quebradas de uma só imagem. E sua cor escura não é em sentido a identificação aos escravos, mas à paz interna e externa da Igreja. Sobre o tema da unidade aparecidense que apresentamos aqui, já refletimos por três vezes em vários artigos como nas revistas Grande Sinal…, Paróquias & Casa Religiosas… e, no site da Academia Marial de Aparecida… Recentemente abordamos amplamente na obra “Guadalupe, Aparecida Lourdes. Três mariofanias, uma mesma mensagem”. Edições Mensageiro de Santo Antônio: SP 2014.

Portanto, que seja estes gestos de união entre estes dois belíssimos santuários motivo para nós, batizados reavaliarmos nossa conduta de amor a Cristo e ao Evangelho, assim como autênticos devotos de Maria, propagar o reino de unidade e de paz. Recuperar os irmãos sem expulsá-los do nosso meio, principalmente os que erram. Fazendo assim, a Igreja será vista como sinal concreto que pertencemos e tralhamos pelo Reino do Senhor.

* Pe. Rafael Maria é doutor em mariologia pela Pontifícia Faculdade Teológica «Marianum» de Roma. Ministra dois cursos de Mariologia em www.cursos católicos.com.br . É formado para Postulação para Beatificação e Canonização pela Causa dos Santos. Informações: d.rafaelmariaosb@hotmail.com

Fonte: Zenit.org

SAV - Pinhais




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